Desde 2017, a REDE coleta informações relacionadas às citações a nomes masculinos e femininos em nossos anais para o nosso Índice de Referências Bibliográficas, o IRB. Nosso objetivo é acompanhar o desenvolvimento e o número de citações a nomes usualmente identificados como femininos na produção acadêmica sobre Governança da Internet, fomentar uma discussão sobre a diversidade de gênero na área, e levar autoras/es em nossos Encontros a refletirem sobre a política de citação e disparidade de gênero por trás de suas própria bibliografias.
O IRB é um formulário de seis perguntas que autoras/es em cada Encontro da REDE preenchem voluntariamente. Perguntamos sobre o sexo de cada autore, bem como pedimos para que quantifiquem e nos informem o número de entradas bibliográficas de seu artigo, ou seja, quantos trabalhos foram citados, além do número de autoria ou coautoria de nomes femininos, de autoria ou coautoria de nomes masculinos, de coautoria de nomes femininos e masculinos, e de origem organizacional, como documentos, leis e decretos, relatórios com autoria institucional etc.
Resultados preliminares sobre uma análise dos dados do IRB entre 2017 e 2022 foram publicados por membros da REDE em uma coletânea organizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), intitulada “TIC, Governança da Internet e Gênero: Desafios e Tendências”. O nosso artigo, “Política de citações: uma análise de gênero dos anais da Rede de Pesquisa em Governança da Internet” pode ser acessado através do link <https://cgi.br/publicacao/2-coletanea-de-artigos-tic-governanca-da-internet-e-genero-tendencias-e-desafios/>.
Tais resultados não trazem um cenário animador: 47% das entradas bibliográficas em nossos anais até 2022 são de nomes masculinos, enquanto apenas 20% são de nomes femininos, um número inferior às citações a fontes organizacionais, de 24%.
Ao utilizarmos o nome das/es/os autoras/es para levantar a proporção de citações a nomes femininos e masculinos nos anais da REDE, reconhecemos que atuamos nos limites de uma análise binária que não captura nuances de gênero que existem e importam. Além disso, a análise a partir de nomes impossibilita a captura de sobreposições de gênero com questões raciais, étnicas, de classe, de origem, de deficiência e outros marcadores que caracterizam a experiência de vida interseccional.
Ainda assim, acreditamos que o IRB contribui para iniciarmos uma discussão de políticas de citações no campo, caminhando na direção de maior diversidade na área e engajamento consciente com a bibliografia.
Por isso, a REDE passou a incentivar autoras/es em nossos anais a voluntariamente incluírem, ao final de seus textos, uma “declaração de diversidade de citações”, sendo transparentes sobre as citações a nomes masculinos e femininos, com vistas a incentivar mais menções a nomes femininos.
O exemplo que usamos, e que pode ser utilizado e adaptado por qualquer pessoa interessada, encontra-se abaixo:
Por meio desta declaração, nos juntamos a um esforço coletivo para desfazer o pagamento epistemológico estrutural na academia contra mulheres, pessoas não binárias, negres, do Sul global, e de outros grupos sociais, cujas vozes são menos ouvidas devido ao viés encontrado em citações. Acreditamos que a transparência em relação às nossas bibliografias é fundamental para compreender o presente, e alterar esse quadro estrutural de maneira conjunta e consistente. Compartilhamos que neste artigo, as citações se distribuem da seguinte forma: nomes femininos (INSERIR QUANTIDADE), nomes masculinos (INSERIR QUANTIDADE), nomes feminino-masculino (INSERIR QUANTIDADE), e fontes institucionais (6).
A declaração, bem como a construção do IRB, estão em constante adaptação. Caso possua sugestões, ou queira se engajar com o tema, adoraremos que entre em contato.
